Coleção: | FUNDO DO MAR |

No fundo do mar existem terrores brancos,
Onde as plantas são animais
E os animais são flores.

Um mundo silencioso que não alcança
A agitação das ondas.
Abrindo em gargalhadas, conchas redondas,
O cavalo-marinho balança.
Um polvo avança
Na desordem
Dos seus mil braços,
Uma flor dança,
Os espaços vibram sem ruído.

Na areia, o tempo pousa
Leve como um lenço.

Mas não importa o quão bonito seja cada coisa,
Tem um monstro suspenso dentro dele.


Sophia Mello Breyner, “Dia do mar”, 1947.